PONTO DE FUGA (Comente)
SAUDADE
A lembrança é um traça gorda
Que morre obesa em uma mente oca.
Tenho tanta saudade das loucas
Elas sim sabiam suportar o elenco da realidade.
DESCONFORTO
Tossindo o medo
Escarrando o desconforto
Às vezes acordo como um anjo
Às vezes como demônio morto.
Já ouvi falar em Deus
Mas dizem que já está morto.
Não sei se foi por desencanto que ele morreu.
Talvez nem tanto
Mas sei que hoje
algo em mim padeceu.
TRISTE ARCO-IRIS
Dei-lhe meus versos compulsivos
Reticentes como falso abrigo
Minado como campo inimigo
Mal enumerados como páginas de um falso livro.
Dei-lhe as cores impuras de um triste arco-íris diluído.
PESCADOR DE ALMAS
Suas palavras gangrenadas
Não brotam mais em movimento.
Eram férteis e moribundas
Mas se perderam ao tempo.
Não sei se digo adeus
Não sei se adoto a saudade.
TRANSBORDANDO
Da água ao gelo
Do odor ao cheiro
Do último ao primeiro
Da metade ao inteiro
Do fim ao meio
Do vazio ao cheio
Já fui seu
Tal como falsas cinzas
De um vulcão extinto.
PONTO DE FUGA
Meu ponto de fuga
Aprisiona-me em falsos horizontes.
CORES DAS DORES
Pintei o abandono
Como cores das dores primárias
Acreditando que um dia
Minha felicidade se tornaria secundaria.
HEDIONDO
O vício hediondo da esperança
Veio me atormentar
Tentou semear em mim
O conforto descontente dos dias incertos.