PONTO DE FUGA (Comente)

SAUDADE

A lembrança é um traça gorda

Que morre obesa em uma mente oca.

Tenho tanta saudade das loucas

Elas sim sabiam suportar o elenco da realidade.

DESCONFORTO

Tossindo o medo

Escarrando o desconforto

Às vezes acordo como um anjo

Às vezes como demônio morto.

Já ouvi falar em Deus

Mas dizem que já está morto.

Não sei se foi por desencanto que ele morreu.

Talvez nem tanto

Mas sei que hoje

algo em mim padeceu.

TRISTE ARCO-IRIS

Dei-lhe meus versos compulsivos

Reticentes como falso abrigo

Minado como campo inimigo

Mal enumerados como páginas de um falso livro.

Dei-lhe as cores impuras de um triste arco-íris diluído.

PESCADOR DE ALMAS

Suas palavras gangrenadas

Não brotam mais em movimento.

Eram férteis e moribundas

Mas se perderam ao tempo.

Não sei se digo adeus

Não sei se adoto a saudade.

TRANSBORDANDO

Da água ao gelo

Do odor ao cheiro

Do último ao primeiro

Da metade ao inteiro

Do fim ao meio

Do vazio ao cheio

Já fui seu

Tal como falsas cinzas

De um vulcão extinto.

PONTO DE FUGA

Meu ponto de fuga

Aprisiona-me em falsos horizontes.

CORES DAS DORES

Pintei o abandono

Como cores das dores primárias

Acreditando que um dia

Minha felicidade se tornaria secundaria.

HEDIONDO

O vício hediondo da esperança

Veio me atormentar

Tentou semear em mim

O conforto descontente dos dias incertos.

Marcos Marcelo Lírio
Enviado por Marcos Marcelo Lírio em 22/10/2009
Reeditado em 28/10/2009
Código do texto: T1880967