PALIMPSESTOS DOS EGOS (Comente)

MEU INFERNO FOI VOCÊ

Respondo mudo

Pergunto vazio

Caminho sem volta

O tempo me aborta

Afogo-me no ar

distante e infinito.

Nao escuta os meus gritos?

minha queda sem chao

Meu choro sem lágrimas

Minha parte partida

Quanta força vencida.

A música destilada

de minha mente doentia

turbina sonolentas melodias.

Viajo sem éter

Sem outras drogas, outras porcarias

Meu inferno é o édem

minha heroína já nao é a cocaína.

Sou...

Vaga-lume sem luz

Cristo sem cruz

Ferida sem pus

Puta sem o nú

Febre sem delírio

Correnteza sem rio

Relâmpago sem trovão

Sou a curva, a tragédia na contramão.

Destino burro

Sou vários, sou uno.

Sou seu amor, intruso.

Veia entupida, amargo da saliva.

Sou a peste, atrevida.

Droga imunda em sua vida .

ASSIM.

Prefiro a brisa de um abraço

Ao calor da humanidade.

SELVAGEM

Já cuspi em muitos pratos que comi

Beijei a musa com uma navalha entre os dentes

Só para sangrar seu sorriso sereno.

Exorcizei santificados

Santifiquei endiabrados

Semeei a loucura nos campos neutros da sanidade.

Fui Nero, fui fogo, fui aço.

Deixei de ser o bom selvagem

Para ser apenas selvagem.

TOLO

Cada tolo com seu ouro

Cada cego com sua lupa

Um banquete de fome

Que teu olho consome.

Trincheiras vazias

Cidades repletas

Já não sei quem mata mais

Teu capital ou tua guerra.

MINHA FLOR MOVIDIÇA

A cada açoitada a de nascer uma flor

Dessas que brotam sem querer brotar

Que falam mil línguas entranhas,

Mas sem saber ouvir, sem saber calar-se.

Estou atracado em teu medo

Quero quase amor, não guerra de nervos.

ROTINA

Viciosamente acordar

Sobre a penumbra cega do egoísmo

Viciosamente alimentar-se

de detritos pobres de sonhos.

Viciosamente adaptar mais um degrau na própria prisão

E lavar os olhos peregrinos

que finge não ver todo caos.

Viciosamente ajoelhar-se

Munido de reação.

Entregando alvos e munições.

OLHARES

Olhe as vidas perdidas

E outras a se perderem

Arrastam o cansaço

Em tantas direções.

Clonando sonhos em vitrines

Vencendo o sim pelo não.

ENTRE SO DENTES

Adaptar pra existir

Aceitar para não crer

Exilar-se da realidade

Maquiar a insatisfação

Comprar o conforto

Prosperar para impor-se.

Vivenciar o perigo

Negligencia em omissão

Exorcizar teorias

Para incorporar demagogias.

Catequizar dinheiro

Alugar a alma a cifrões.

EU FIZ

Acordei para vencer o cansaço

Polir a ferrugem dos dias mal vividos

Tomei cuidado como os campos minados

Obrigado meu mundo por teu doce cinismo.

Mais um dia é você quem trás

Essa angústia de tantos endereços.

Implorei por proteção

Enterrando coragem apavorada

em tuas covas tão mais rasas.

CIDADE

Os carros se atropelam

Pessoas se atropelam

Cadeia, céu aberto, combustão.

Arquitetura de papelão.

Cidade real, fatal, redoma de neandertal.

MATEMÁTICA INÚTIL

Somando asneiras

Dividindo probabilidades

Traçando paralelos

Equacionando ambições

Materializando a exclusão

Tirando a prova real de hipocrisia.

Marcos Marcelo Lírio
Enviado por Marcos Marcelo Lírio em 12/10/2009
Reeditado em 28/10/2009
Código do texto: T1861632