JOGATINA
A jogatina campeia,
chispa da tevê, num facho.
Sendo moda, como eu acho,
já se articula em cadeia.
De loto e de loteria,
com telessorte e bingões,
isto virou de ilusões
nossa maior pescaria.
Eis cultura consagrada:
Sena, Quina e Raspadinha.
Você bota “x” na linha,
vai ver, e não leva nada.
Erramos nossa parcela,
quando provamos do angu.
E, tanto eu como tu,
pomos olhão na cartela.
A gente, com tal ‘frisson’,
conforme diz o francês,
sempre e sempre, cada vez
espera só por bem-bom.
Até Camões e Platão,
por aqui, na grande terra,
dariam toda Inglaterra
pra marcar o seu cartão.
Mesmo Lady Di, humana,
viva fosse, e sensual,
com salário no real,
faria a fé por semana.
Quem pensa grande, tem norte,
não se senta nos palpites,
nem joga à toa – as elites
é que lucram, vendem sorte.
Afinal, interessantes
não são cifrões, e eu diria
que jogar é fantasia
– não muda maus governantes.
(Setembro de 1997)
Fort., 28/08/2009.
* * *
(*) Sátira à jogatina desenfreada,
no País. O texto é ‘dormido’, mas,
pela sua atualidade, quando, cada
vez mais, prosperam jogos, em ca-
esquina, achei por bem postá-lo,
cá, no Recanto.