É Homem?
É homem?...
Dizem. Ignora-se
contudo a sua identidade,
camuflada num charco de velhice
prematura.
É o jovem, velho
pelas injustas agruras
da vida.
O jovem velho!
O velho jovem!
Orou bem alto, exausto,
numa assembleia social
de alcatrão nas veias.
Era seu fruto,
mas todos o apontaram, a dedo,
ocultando os rostos
com monstruosas mãos,
como se fosse um criminoso.
Pensava assim. Era anti-clássico.
Não se incriminava de tal.
A natureza assim o delineou.
Errava por falar verdade?!...
Errava por clamar justiça e liberdade?!...
Assim pensava o círculo que o estrangulava.
Anátema?!... Não. De modo algum
o era ou seria. Antes ultra-moderno, realista.
Clamava, bem alto, pelo Progresso,
não ocultava segredos nem medos,
tinha fígados de herói perdido
nas trincheiras da desesperada batalha.
Que lhe fizeram?... Assassinos!
Incriminaram-no sem crime!
Condenaram-no sem julgamento!
Onde ficou então a justiça?...
No fundo de um saco hediondo e hipócrita:
cérebros tacanhos de humanidade monopolista.
(Negrelos, 08/11/1971)