Meu Poema, Minha Prosa, Minhas Intenções
- O que você quer com isso?
Perguntou-me uma senhora "recatada",
Curiosa ao ler um dos meus textos,
Lia e criticava, quase que desbocada,
Um dos meus versos de profunda irônia,
Estava irritada, aquilo não lhe dava alegria.
- Quem você pensa que é para falar assim?
Reiterou essa mesma senhora, bufando de raiva,
Não admitia a leitura daquele poema,
Julgava motivo de um grande problema,
Portanto, queria explicações, boas razões,
Queria de mim a verdade e não suposições.
- Diga-me, rapaz: Quem és e o que queres?
Pois bem, "estimada" senhora, farei o que me pedes...
Pois bem, "honrosa" senhora, também honrarei as minhas vestes,
Darei-te as desejadas explicações, mesmo sem precisar te dar,
Entregarei-te as minhas razões, apenas porque quero entregar...
Eu sou o mendigo sujo que anda pelas nossas ruas,
Eu sou as nossas prostitutas, desavergonhadas e seminuas,
Eu sou o proletário, de rosto sofrido e bastante suado,
Eu sou o alcóolatra, mau-amado, doente e desorientado.
Eu sou o velho que cai na rua e ninguém auxilia,
Eu sou o pobre, mergulhado na fome que nunca alivia,
Eu sou o menino de rua, violentado e esquecido,
Eu sou o desempregado, descriminado e entristecido.
- Ora... vejam só... Então de fato sois um homem santo?
Não, "digna" senhora, certamente não sou, sou apenas um escritor,
Que não consegue ficar calado com a injusta realidade,
Que luta por um mundo melhor, repleto de solidariedade.
Podem ofender-me, podem criticar-me pelo que faço,
Mas saibam que eu não vou mudar sequer um único traço,
Das coisas em verso e prosa que honrosamente escrevi,
Pois sei muito bem o que quero, sei o que faço,
Quero ajudar esse povo a ter o seu próprio espaço.
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