PODE A MORTE SER POÉTICA?

Diz o menestrel: Não há poesia em morrer!

Verdade, porém convém pensar...

Poética é a morte por sentença, natural

É morrer de morte morrida.

Poético é morrer quando...

A máquina de seu corpo,

Completamente oxidada pelo tempo

Já não tem serventia, nem conserto algum.

Poético é morrer quando...

O coração em comum acordo com o cérebro,

Exauridos da labuta, unem-se em pulsar e ânsia

Num definitivo e digno ultimo suspiro.

Poético é morrer quando...

A vaidade faz parceria com a morte, por não suportar

O declínio de um perecível corpo, vestido de uma pele fina

Desbotada, desidratada e plissada por rugas irreversíveis.

Poético é na ebriedade da morte

Sentir o cheiro das flores brancas,

O calor humano das velas acesas, em ultimas chamas

Flores e velas, companheiras de vida e morte.

Poético é pressentir sua chegada natural,

Na advertência de um ameno calafrio,

Sem temor algum, em reverência…

Num afetuoso sorriso de aceitação.

Poético é aceitar o percurso da vida

Como sendo o caminho lentamente suave,

Ao encontro do misterioso destino certo, a morte natural.

Qualquer outro tipo de morte, é ultrajante.