TELHA

Será que serei eu uma telha velha e vermelha

Dessas que fazem o telhado leve desse rancho?

Serei eu uma desgovernada e boba centelha

De um Dom Quixote que se perdeu de Sancho?

Serei eu uma gota de mel que se fez abelha

Nas cores de um arco-íris que se fez beija-flor?

Serei eu o cinza sombrio que o mar espelha,

Da tempestade que procura em vão o amor?

Sou, antes, o azul que diante do mar se ajoelha

E com a candura entardecida, me desmancho,

Depositando nele, insano, a minha imensa dor,

Como um ouriço que cobiça a lã da ovelha.