TORTURA E TORTURADORES
[“Para o torturado, falar sobre o
sofrimento da tortura é tocar no
indizível” – Maria Auxiliadora Arantes,
ex-presa política, torturada, psicana-
lista. ISTO É, 09/12/98, p. 38]
Há palavras que, fonemas,
já seviciam, torturam.
Destas vejamos apenas
dois verdugos que trituram.
Na verdade, dois carrascos
que a todo o léxico oprimem,
sejam na língua dos bascos,
onde vocês imaginem.
E existem palavras tristes,
poucas, alegres, que afagam,
algumas que nunca vistes,
ó pulhas que torturavam.
Certas fechadas em copas,
outras comunicativas
e muitas que são potocas,
mas palavras auditivas.
Palavras há como a chuva:
brandas, às vezes, (de afeto),
feito a mão roçando a luva,
torós, por vezes, no teto.
Algumas delas contidas,
tantas de amor derramadas,
ou, por outra, derretidas,
então palavras pesadas.
Contudo, vai, te segura,
ante o podre dos horrores.
Seu nome lê-se ‘tortura’,
santa mãe dos ditadores.
Outro termo que figura
no sadismo dos terrores
vem da sordidez mais pura,
no plural: ‘torturadores’.
(Dezembro de 1998)
[Poema desenterrado da leitura de VEJA,
edição que espicha fatos cruéis sobre a
tortura, no Brasil, e deixa torturadores e
torturados dos “anos de chumbo” com o
coração nos gorgomilos. Urge que levan-
temos, hoje, nossa voz contra os horrores
de Abu Ghraib e Guantánamo, respectivamente,
no Iraque e em Cuba, vergonhosos antros de
tortura, sob os olhares cúmplices da ONU,
criminosamente capitaneados por George W.
Bush, cadente e tristemente trágico presidente
dos EUA]
Fort., 19/11/2008