A Canoa do Proniano
Outro dia com um amigo
Estava nos dois proseando
De coisas antigas das boas
Como era bonito este rio
Nos dois estava lembrando
Das pessoas que viviam
Com anzol,tarrafa e canoa
De peixe se alimentando
Tinha bagre e cascudo
Traira então nem se fala
Com mais de arroba pesando
Alegrando o pescador
Não pense que tou inventando
Do fundo daqueles poços
Depois de um trabalhão medonho
Vi muito deles tirando
No Ribeira tinha as canoas
Que desciam transportando
Minério de chumbo do Rocha
Misturado com Prata e Ouro
De dentro daqueles morros
Tempo inteiro iam tirando
E nas Panelas das Brejauvas
Enriqueciam o Adriano
Os canoeiros viviam
Lutando com as cachoeiras
Cavalgando suas canoas
As suas vidas arriscando
Com varejão ou com remo
Desafiando as Criminosas
Entre eles tinha o Nazareno
Companheiro do Proniano
Tudo estas coisa seu moço
Pode parecer que é engano
O tempo na minha cabeça
E que foi amontoando
Como o vento traz as folhas
Que vem de longe arrastando
Lembro de coisas do Rocha
Do tempo que lá moramos
Quando do Rocha mudei
Ainda fico lembrando
Saímos do Rocha à pé
Pois outro jeito não tinha
Lá onde as águas do Rocha
No Ribeira vai entrando
A canoa do Nazareno
Por nós tava esperando
Juntamos as poucas coisas
E na canoa amontoando
Minha mãe ficou nervosa
Estava se recusando
A viajar numa canoa
Com a água quase entrando
Então vimos um canoeiro
Do outro lado passando
Bradamos e ele ouviu
Atravessou logo o rio
Do nosso lado encostando
Sua canoa era grande
Madeira de muitos anos
Nela fomos se ajeitando
Ali que fui conhecer
A canoa do Proniano
Quem via aquela canoa
Ficava mesmo admirando
A canoa era tão grande
Não vão ficar duvidando
Pra isto poder provar
Tenho retrato mostrando
Duas canoas das outras
Cabia na do Proniano
Descemos pelo Ribeira
Pra quem ficou acenamos,
Nazareno lá ficou
A sua vida tocando,
Descemos por cachoeiras
Das pedras grandes desviando,
Foi a ultima vez que andei,
Na canoa do Proniano
No porto da dona Augusta
De tarde fomos chegando
Subimos pela barranca
Pra trás ainda olhamos
Canoeiro e canoa
Em silencio se afastando
A derradeira vez que vi
A canoa e o Proniano
Quando a saudade me aperta
Eu fico então imaginando
A canoa que com o tempo
Aos poucos foi se acabando
Ou levada pela enchente
Em algum porto esperando
Pra minha ultima viagem
Na canoa do Proniano
Urano de Sousa, 150708