Atrás da Porta
eis que ao final do dia
atrás da porta há uma pá
e junto à pá, uma vassoura,
ambas a descansar
a casa limpa, arrumada
lavanda perfumando o ar
as coisas organizadas
em seu devido lugar
mas a dona de casa,
ah, essa dona não para
além de tudo trabalha fora
mas a volta ao lar
já nem vê a hora
com os pés e as mãos
passa o resto do dia a limpar
esfrega o pano no chão
que dá gosto ao vê-lo brilhar
e esfrega, esfrega o sabão
que as mãos poderosas
que empurram a estante
e arrastam o sofá
de tão delicadas parecem sangrar
mas tudo isso pouco importa,
na tristeza ou na alegria,
não dá pra fingir-se de morta
e aí recomeça a agonia
em sua desatada sangria
não pode sequer descansar
ficando atrás de uma porta
ao final de mais um dia
feito a vassoura e a pá!
MARCANTE, Alexandre.
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