Cálice

Muito embora queira fazer disso um ato grandioso, permaneço na inércia.

Permaneço com os que pensam e esquecem, desejam e rejeitam.

É típico de mim mesma sangrar por cima do que toco.

Me derramo e me espalho, e juntar-me posteriormente resulta eminentemente na perda de várias partes minhas,

fato esse que me alivia o peso,

mas, de certa forma, me impossibilita das grandezas da vida de quem não se perde e se derrama por aí.

Sou feita de desejo, lágrimas, sangue, hipocrisia, sarcasmo feio, frenesi, fome, cansaço, anseio, amor e caos.

Como não transbordar perante as coisas?

Não mencionei a inevitável inveja daqueles que conservam seus resíduos e pedaços dentro de si, sempre e constantemente mantidos, sem a mínima variação.

Já meu copo, cálice, transbordam.

Há, inclusive, tempestades inteiras dentro deles.