Um beco

Um beco onde ninguém esteve.

Uma interseção de ruas vazias de uma cidade inatural;

Esquecida por Deus já que por homens haveria de contar algumas histórias...

E ninguém ali esteve, de qualquer maneira, ninguém amou nem sentou-se no cordão da calçada.

Só há uma casa abandonada com janelas frias e escuras,

E o mato que a circunda; e objetos obsoletos manchadas pela chuva.

Uma umidade que dá tom de senilidade ao beco e à casa,

E só eu ali por vezes me sento no cordão a fumar filtros vermelhos

Bêbado, refletindo: “Estou aqui? Estarei mesmo aqui?” E por fim noto que, no desespero da vida deixada, com vertigens e ameaças; com arrepio de sentir-me mas não de ver-me, percebo aterrorizado que ninguém ali esteve.

Pasquali
Enviado por Pasquali em 15/02/2023
Código do texto: T7719686
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