Mente de menino
Num quarto três por três
Eu e a máquina de escrever
Um velho livro em francês
E outros tantos para ler
Milhões de papéis amassados
E mais um tanto sobre a mesa
No cinzeiro um charuto fumado
E eu poeta espantando a tristeza
No velho rádio ouço um blues
Na inspiração vem uma moça
Tão linda de olhos azuis
E um batom vermelho na boca
O sol que entra na janela
Revela a poeira do ar
Ao som do uivo de uma fera
Talvez a alma a gritar
No dicionário eu procuro
O significado de amor real
Na solidão de um ser impuro
Criando pra ele um mundo irreal
Na rua a música urbana
Com suas buzinas e motores
Que correm de uma forma insana
E na calçada tantos desamores
O velho bonde subindo a ladeira
Com a comunidade de passagem
Com uma alegria quase verdadeira
Vê-se um cansaço cheio de coragem
Eu poeta usando os elementos
Baseado em seu cotidiano
Inspiração ao sabor do vento
Escreve por dias, meses, anos
E a ampulheta do destino
Com suas areias esvaindo
Mostram todo seu tempo indo
Corpo de velho e mente de menino.