Mente de menino

Num quarto três por três

Eu e a máquina de escrever

Um velho livro em francês

E outros tantos para ler

Milhões de papéis amassados

E mais um tanto sobre a mesa

No cinzeiro um charuto fumado

E eu poeta espantando a tristeza

No velho rádio ouço um blues

Na inspiração vem uma moça

Tão linda de olhos azuis

E um batom vermelho na boca

O sol que entra na janela

Revela a poeira do ar

Ao som do uivo de uma fera

Talvez a alma a gritar

No dicionário eu procuro

O significado de amor real

Na solidão de um ser impuro

Criando pra ele um mundo irreal

Na rua a música urbana

Com suas buzinas e motores

Que correm de uma forma insana

E na calçada tantos desamores

O velho bonde subindo a ladeira

Com a comunidade de passagem

Com uma alegria quase verdadeira

Vê-se um cansaço cheio de coragem

Eu poeta usando os elementos

Baseado em seu cotidiano

Inspiração ao sabor do vento

Escreve por dias, meses, anos

E a ampulheta do destino

Com suas areias esvaindo

Mostram todo seu tempo indo

Corpo de velho e mente de menino.

Poemicida
Enviado por Poemicida em 05/06/2022
Código do texto: T7531241
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