CAIM
Tocaia o choro por trás da face
Vibra fina alma lâmina samurai
Corta e penetra reflete brilho frio
Se condensa azul e cai.
Coração engaiolado bate e indiferente
Rebate coração prisioneiro impensado
E a voz universal na lâmina ecoa
No ritmo da batida te embala e te chama
Dizem que respirar mantém acesa a flama
Teu Deus te ordenou viver e assim será.
Negado o consolo de ser punido
Na testa marcado para não ser morto
Marcado na alma fria lâmina embrutecida
Eras ecoando pelo funil da ampulheta
Mantiveram escrito o teu feito padroeiro
Do crime passional da fonte ácida inveja ofuscante
Lâmina endurecida alma reflete o brilho
Da lágrima que não cai.
Coração prisioneiro insensato se aliena
Exploração trabalhista política corporal
Violência lascívia fragmentação desmedida
Suicídio inconsequencia propaganda ambição
Acaso sou eu o guardião do meu irmão?
- Fizestes o que fizestes, com isso viverás.
Tocaia o choro atrás da face empedernida
Em remorsos engaiolastes o próprio coração
Eu conto os fios de cabelo de tua cabeça
E digo: És ainda obra de minhas mãos.
Criatura da minha criação, desde sempre
Te dei a liberdade para o sim e para o não.
Olha o teu pecado como cão segue teus passos
Abre a bocarra dentes agudos faminto hiante
Teu desejo amadureceu e o gerou fera atraente
Tua escolha o sustentará ou o calará.
Não grite morra pare chore peça
Olha coração bate contra a lâmina vibrante
Escolhe o que fazes te fará.
Tangará da Serra, 1992.