CAIM

Tocaia o choro por trás da face

Vibra fina alma lâmina samurai

Corta e penetra reflete brilho frio

Se condensa azul e cai.

Coração engaiolado bate e indiferente

Rebate coração prisioneiro impensado

E a voz universal na lâmina ecoa

No ritmo da batida te embala e te chama

Dizem que respirar mantém acesa a flama

Teu Deus te ordenou viver e assim será.

Negado o consolo de ser punido

Na testa marcado para não ser morto

Marcado na alma fria lâmina embrutecida

Eras ecoando pelo funil da ampulheta

Mantiveram escrito o teu feito padroeiro

Do crime passional da fonte ácida inveja ofuscante

Lâmina endurecida alma reflete o brilho

Da lágrima que não cai.

Coração prisioneiro insensato se aliena

Exploração trabalhista política corporal

Violência lascívia fragmentação desmedida

Suicídio inconsequencia propaganda ambição

Acaso sou eu o guardião do meu irmão?

- Fizestes o que fizestes, com isso viverás.

Tocaia o choro atrás da face empedernida

Em remorsos engaiolastes o próprio coração

Eu conto os fios de cabelo de tua cabeça

E digo: És ainda obra de minhas mãos.

Criatura da minha criação, desde sempre

Te dei a liberdade para o sim e para o não.

Olha o teu pecado como cão segue teus passos

Abre a bocarra dentes agudos faminto hiante

Teu desejo amadureceu e o gerou fera atraente

Tua escolha o sustentará ou o calará.

Não grite morra pare chore peça

Olha coração bate contra a lâmina vibrante

Escolhe o que fazes te fará.

Tangará da Serra, 1992.

Lucimara Vaz
Enviado por Lucimara Vaz em 06/08/2020
Reeditado em 06/08/2020
Código do texto: T7027635
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