Sem endereço
Estou sem endereço
Me conheço muito, quase nada
Destino cigano plantado nesse solo fértil
Viajo por todo o mundo banhando-me de sol
Força maior que me leva e me eleva diante dos deuses que não conheço
Me preparo, me amparo, me desgasto porque não sou perfeito
Procuro, acho, reconheço
Passa diante de mim e me arrasta consigo sem minha permissão
o tempo em que navego
Me vejo, me olho, me enxergo, sou cego
Passa diante de mim o tempo que já não tenho
Me abstenho do que não falo
Abdico, dedico, e desdenho
Tenho o que tenho
Conquisto o vento que sopra meu peito, meu rosto
Sou o oposto do que é certo
Me desfaço do concreto, do puro, do exato
Sou quase o que quero
Espero e procuro os sinais que me revelam
Distância que ainda não conheço
Esqueço o que não interessa porque a vida me apressa
Meu apreço fica sem valor
Limpo o que já não quero, prefiro, silencio, quero
Mensuro o tempo na idade
Minha irmã caçula é mãe, é mulher
Não falo outras línguas mas as entendo
As conheço como em outras vidas
Meus pais envelheceram, assim como eu e minha outra irmã
Minha família pouco cresce, e obedece o que somos
E o que somos?
Almas que se encontraram porque se dividiram
Somos uma alma só
Por que Deus nos repartiu?
Será que para encontramos nossos defeitos e sentir saudades de nossas partes?
É o que acontece quando uma parte sem dizer adeus, ou até já, se vai
Retorno e encontro a eternidade nos encontros que tenho
Estendo minha mão para alcançar outra que me deseja
Toco, sinto, acalmo, enlaço e leio
Quase como um cigano com rumo, desencontro dos caminhos que escolhi,
mas sou feliz.
Outros são, outros serão, outros virão
23 agosto 2002