João Pedro
No início do caminho: um nó
No meio do caminho: um nó
Junto ao nó, a prisão
Junto ao nó, o açoite
Junto ao nó, a desumanização
Junto ao nó, a banalização
Junto ao nó, a covardia
Junto ao nó, a ignorância
Depois veio a bala
E veio o alvo
E o alvo juntou-se ao nó.
E o alvo subiu os morros
E o alvo saiu das escolas
E o alvo não pôde ser universitário
E o alvo não pôde ser doutor
Porque era alvo.
E nó cego fecha a garganta
Do alvo
De todos os alvos
Da bala política
Da bala perdida
Que sempre encontra o alvo
E o nó que fecha o caminho
Também prende o choro
De amor
De esperança
Do pai
Da mãe
Da irmã
Do irmão
Do filho
Mas são todos alvos
Correndo de caçadores
Amarrados ao nó
Da imodesta crueldade
O nó que ninguém desata.