João Pedro

No início do caminho: um nó

No meio do caminho: um nó

Junto ao nó, a prisão

Junto ao nó, o açoite

Junto ao nó, a desumanização

Junto ao nó, a banalização

Junto ao nó, a covardia

Junto ao nó, a ignorância

Depois veio a bala

E veio o alvo

E o alvo juntou-se ao nó.

E o alvo subiu os morros

E o alvo saiu das escolas

E o alvo não pôde ser universitário

E o alvo não pôde ser doutor

Porque era alvo.

E nó cego fecha a garganta

Do alvo

De todos os alvos

Da bala política

Da bala perdida

Que sempre encontra o alvo

E o nó que fecha o caminho

Também prende o choro

De amor

De esperança

Do pai

Da mãe

Da irmã

Do irmão

Do filho

Mas são todos alvos

Correndo de caçadores

Amarrados ao nó

Da imodesta crueldade

O nó que ninguém desata.

VALERIA DA SILVA
Enviado por VALERIA DA SILVA em 20/05/2020
Reeditado em 01/07/2020
Código do texto: T6952537
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