Criação XX/XXI
Criação XX/XXI
Pousados os olhos
no tampo
os dedos a traçar no ar mensagens inconscientes
a ponte dos óculos
aninhando-se
à ponte do nariz
as letrinhas do teclado a produzir
associações que levam a outras
e assim por diante
o corpo como que atento,
a vigília que aliena todo o resto
do mundo
a musculatura rija, os olhos fixos, o oposto do medo
que não é coragem
nem a vontade animal de assaltar de súbito
as pernas cruzadas
a inclinar o eixo do corpo
sobre a cadeira
por trás da constituição frágil todo um universo
que será destruído ao mais leve e
passageiro
som
pois é o escutar a si mesmo
a via indiana pulsante de impressões ubíquas
que é a consciência. a transformar-se
num túnel verdejante francês
(ignorante quanto ao clamor das ruas)
por onde passa
dos pensamentos inquietos para os dedos
à espera
uma palavra por vez