Uísque de bolso

O vento frio atravessa os grossos fios do casaco de lã listrado

do vagabundo errante pelas vielas pichadas e pelo asfalto gelado,

entre árvores amorfas e pretas & telhados marrons e alaranjados

- onde os anjos mudos e pálidos se sentam, riem, melodiam & tocam

seus alaúdes sem cordas e meneiam seus cabelos louros e cacheados,

às estrelas fixas e à Lua , que inundam de luz, devaneio & sereno,

o bairro plácido.

Janelas acessas e barulhos de tevês;

carros cor-de-vinho estacionados,

ele para, tira um cantil cintilante do bolso do Jeans surrado

e entorna um gole do néctar doirado, e volta a coxear. . .

A coruja no poste faz pruuu-pruuu,

Ele acaricia as pétalas orvalhadas das rubras acácias

que transbordam sobre o muro branco, cingido de pontas

de lanças negras da casa 349 na esquina silenciosa.

A gangue de cachorros revira o saco de lixo orgânico

atrás dos canapés da madrugada.

As cercas elétricas estalam baixinho,

ele para de novo...

tirita um pouquinho, esfrega as mãos, e entorna mais um gole

de imaginação; encara as constelações, respira o ar puro do séc.XXI

suspira, e ri... e continua, a lentíssima marcha da Contemplação.