A beleza da desobediência
O poeta não é anjo nem louva-a-deus
traz o saber de atestar e dissuadir
no ofício de espalhar surpresas
quando o rito fixa seus disparates.
Superlativo único do zero maravilha-se
em desatinos e conflitos quando a rima
escraviza a alma sem a revelação da luz.
A água é transformada em pedra pela
saliva da veneração. O odor dos jardins
pelas esquinas frenéticas dos cantares.
Pela boca, os barcos a correr em mares
nunca d'antes velejados. A sede do caos
quando o fogo esplêndido é a inocência
da livre vontade posta sobre fios de tear.
O veneno da arte é uma forma de iludir
a lavoura que não reverencia o lavrador
na efervescência da profanação sagrada.