Nada tenho a ti oferecer...

Nada tenho a ti oferecer

a não ser a marcha fúnebre do verbo

(o vigilante a cortejar os homens

com a cinza do passageiro que se foi)

como um vício natural de imprevistos.

O encanto que cultivavas no olhar

perdeu-se na desventura das entranhas

onde se amontoavam as cores da avidez.

Para amar é absoluto aquietar-se no outro

depois que a placidez desnudar-se no espaço

quando se fundem a luz ao ideal aproximado.

Hoje não me invento, apenas sei do deserto

da existência no abrigo de mim mesmo

como quem chegou diante da despedida.

Sei que ficar só é quem sabe de solidão

no prelúdio consentido do tempo.

Oferecer-se é dividir o encantamento

na estação solene da transparência impessoal .

Nada tenho a ti oferecer, só a cadência

de pétalas assanhadas e a vontade

de sentar-se à mesa da monotonia

onde brilha a cobiça do refinamento.

ubirajara almeida
Enviado por ubirajara almeida em 03/12/2018
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