Nada tenho a ti oferecer...
Nada tenho a ti oferecer
a não ser a marcha fúnebre do verbo
(o vigilante a cortejar os homens
com a cinza do passageiro que se foi)
como um vício natural de imprevistos.
O encanto que cultivavas no olhar
perdeu-se na desventura das entranhas
onde se amontoavam as cores da avidez.
Para amar é absoluto aquietar-se no outro
depois que a placidez desnudar-se no espaço
quando se fundem a luz ao ideal aproximado.
Hoje não me invento, apenas sei do deserto
da existência no abrigo de mim mesmo
como quem chegou diante da despedida.
Sei que ficar só é quem sabe de solidão
no prelúdio consentido do tempo.
Oferecer-se é dividir o encantamento
na estação solene da transparência impessoal .
Nada tenho a ti oferecer, só a cadência
de pétalas assanhadas e a vontade
de sentar-se à mesa da monotonia
onde brilha a cobiça do refinamento.