SANTO ANTÓNIO VAI À FEIRA DO LIVRO
(Milagre das “Florinhas”)
Do seu nicho junto à Sé
Santo António foi à Feira,
De bicicleta ou mesmo a pé
Pois era a única maneira.
Lá no cimo da Avenida
Onde a festa há-de ser sua
Fica a Feira envaidecida
Ornada de rua em rua.
Sob os olhos do Marquês
Com o Tejo ali à vista
Estimula-se o freguês
A fazer-lhe uma visita.
Dizem que a Feira está boa
Com um clima a condizer
Vale a pena ir a Lisboa
Para um pedaço de lazer.
Gente acima, gente abaixo,
Nas ruelas do verde Parque
Quem é triste e cabisbaixo
Faz por bem a sua parte.
Livros novos, livros velhos,
Pelas bancas a abarrotar
Não se espera por conselhos
Nem palpites pra vasculhar.
- Vem o Santo, vem o Santo,
Santo António dos afectos,
Estando cá és um encanto
Pois em ti não há despeitos.
- Olha a banca dos Sanctorum,
Onde estará o meu lugar,
No meu Liber Miraculorum
Com histórias de espantar…
- Mas… passemos adiante
Há por ali antiguidades
Livros nobres de bom talante
Com aspecto de raridades.
- Quanto custa aquele ali,
Hyssope, de nome e de conto?
- Noventa euros, para si,
A combinar o desconto…
- Que tosse agora me deu
E que forte agoniação,
Nunca tal me aconteceu
Semelhante aberração.
E o Santo baixou as linhas
Vagueando por outras bancas
À procura das “Florinhas”
Com historietas mais santas.
Chegou, então, à larga praça
Com música e animação
- Aqui já tem outra graça
Estou co´ a minha geração.
Sentou-se o Santo na plateia
E fez questão de partilhar
Mas nada lhe vinha à ideia
Para ali representar.
- Tu aí, ó feliz fradote,
Sobe ao palco, vem cantar,
Pois pra aqui não urge dote
Basta apenas dinamizar.
Santo António, não se desfez
E misturou-se às criancinhas
Pra contar de uma só vez
A mais bela das Florinhas.
- Foi num dia de sol assim,
Havia greve ali na doca
E neste Tejo carmesim
Gritava-se pão para boca.
- Há muitos meses durava,
Triste greve de atavios
A economia estagnava
E toda a gente a ver navios.
- Coitado de quem trabalha
E não tem pão ao fim do dia
Em casa todo o mundo ralha
E, lá por fora, só folia…
- Toquei nas águas do Tejo
E, lavando as minhas mãos,
Pedi ao Menino um desejo
Que todos, ali, fossem irmãos.
- O perfume das minhas flores
Com amores ao desafio
Fizeram que os dissabores
Fossem pela água do rio.
- Sabem depois o que aconteceu
Naquela manhã promissora?
Toda a gente as mãos se deu
E aquela greve foi-se embora!
- Quem és tu, ó forasteiro
Que alegraste estas crianças?
- Pois, delas sou companheiro
E, agora vamos às danças!
E o Santo piscou o olho,
Por entre afagos e retractos,
E, antes que ficasse zarolho
Despediu-se dos gaiatos.
Faltam Feiras, faltam Feiras,
Com lazer e mais Cultura,
Minguariam as asneiras
E até o fel seria doçura.
E assim sem contratempo
Foi um gosto e um prazer,
Ir à Feira com algum tempo
Dá vontade de aprender!
Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA