CORTES

 

Para permanecermos inteiros,

São necessários cortes.

Mesmo que doa, mesmo que 

Quase não se suporte.

 

E o que mais dói, na verdade,

Nem é o sangue que brota

À passagem da lâmina

Que separa,

Não são as escaras que surgem

Após o corte.

 

O que dói está na alma.

Está na calma aceitação.

Na percepção indiferente

(Ou na não percepção).

 

Mas mesmo assim, de repente,

Os passos ficam mais leves

E a caminhada flui sem dores,

As bolhas nos pés desaparecem,

E a imunidade da alma

Só cresce.

 

E um belo dia,

A gente se pergunta

Como conseguia caminhar,

Se arrastar pela vida quase ileso

Mesmo carregando tanto peso.

 

E até compreendemos

Diante do imenso silêncio,

Que nós mesmos, muitas vezes,

Representávamos o mesmo peso.

 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 08/11/2024
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