Alucinação
As paredes estão derretendo
Ouço gritos ao meu redor
Vejo o chão se desfazendo
As árvores se contorcendo e dando nó
O coração acelerado
Das mãos gotejando suor
O ar ficando escasso
Eu e o meu embaraço
Cada vez mais perto do espaço
Sem espaço para retornar
Cada vez mais longe de mim
Livre enfim
Me sentindo mesmo assim, sem ar
As pessoas já não tem alma
Ou as almas não tem mais cor
Em meu peito, o silêncio
Pinta todo o desamor
Vi tudo isso de longe
Como se fosse o passado
Lá fora, a rua em chamas
E os móveis de casa, congelados
Não sei que lugar é esse
As vezes, eu consigo esquecer
Estou flutuando sob as nuvens
Assistindo a minha carne apodrecer
Mas eu nunca fui inocente
Já vi tantas rosas morrerem
E brotarem novamente
Diante da insanidade
Eu me reconheci
Sou fruto da crueldade
Dessa terra que eu nasci
Sem chance de enganar o destino
Eu apenas desisti
Aos poucos eu fui sumindo
Até não existir
Eu vi e ouvi as vozes do lado de fora
Tentando entrar aqui
Mas a realidade me incomoda
Me sufoca e me faz rir
O cheiro perdeu o som
E o som perdeu o gosto
O ódio se instalou
E o amor perdeu seu posto
As palavras se embaralharam
E escaparam da minha boca
Lágrimas aflitas
Sem medo de disfarçar
O mundo está em pedaços
E minha mente alucinando queimar
Andando em corda bamba
Eu sigo entre dois amigos
O medo de cair
E a vontade imensa
De me jogar