Estamos em 31 de 24 e ainda estamos em pleno mar… 

eu tive um sonho, porém estava acordado, parado.

em pé na cozinha encarando a parede branca e vazia

por fora e cheia de camadas por dentro, como todos nós.

 

Eu me vi saindo de uma sala de aula, suspirando

e definitivamente preferindo ficar sozinho… 

uma lancheira com um copo de suco atravessava

meu peito, e dentro havia um hambúrguer feito 

por minha mãe, e fora da lancheira, uma vida inteira.

 

A lancheira era da Turma da Mônica 

e eu respirava a Turma da Mônica… e fazia 

desenhos no caderno e em milhares de papéis

em minha casa, quanto meus pais gastaram 

pra me dar tanto papel, durante a infância?

 

Eu não desenhava o que já existia 

eu tentava criar personagens e inventar

as minhas próprias histórias me frustrando

em papéis amassados, atirados ao lado.

 

Eu desenhava ninjas ou paisagens 

e criava heróis e personagens e haviam 

vilões e montanhas, sol e chuva e o final… 

 

O fim do mundo estava ali; 

assim como o princípio; Eu é que não sabia 

identificar o que via, e estava por vir. 

 

Viria a adolescência, viria… 

a vida adulta, viria… 

Estamos em 31 de 24 e ainda estamos em pleno mar… 

 

Todos os dias, eu com sete anos 

de idade preferia ficar sozinho, pensando… 

 

não me lembro das 

coisas que pensava 

mas lembro do quarto e da 

montanha de papéis usados 

e de minha lancheira. 

 

Eu, procurando o lugar mais 

chato, sem brinquedos e mais vazio 

da enorme escola... 

 

Eu sendo a cota negra

eu que gostava desenhar

eu que gostava de dançar 

eu que gostava de cantar.

 

Não queria mais ninguém 

não queria interpretar personagens

não queria rir sem vontade.

 

Debaixo de uma árvore 

com minha lancheira 

e uma revistinha… 

 

Eu era Eu.

 

Na melhor meia-hora 

de todos os dias. 

 

 

Henrique Britto
Enviado por Henrique Britto em 31/07/2024
Código do texto: T8119008
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