Coisas da vida
I
São coisas da vida,
Sofrer...
Queria ter um bosque
D’onde só eu e ela viveríamos,
E sempre venero noite e dia
Tal lugar distante, muito além
De tudo isso...
Como dois Deuses a cultivar
Uma pequena vivência longe de tudo.
Queria eu, desconsolado e mudo,
Deslocar minh’alma pr’aquele mundo.
Fosse o aqui, o agora
É muito chato...
Vai, alma curiosa!
Vai viver de teu sonho...
II
São coisas da vida
Perder...
Eu perco e perco
Até morrer.
(Inspire, bravo coração
Coração apto a se perder!)
Repele tudo aquilo que és;
Tire o casaco do que foste;
Sejas outro que tu.
Saber quem somos...
III
São coisas da vida,
Envelhecer...
E teu rosto aos poucos vence a juventude.
Tua alma, pesada, já não tolera tudo.
Pessoas que foram e morreram,
Numa fila divina e inexorável onde
Esperamos impacientes a nossa vez.
Até lá havermos de passar...
IV
São coisas da vida,
Empalidecer,
Torna-te da cor de uma vela;
Tuas lágrimas: Teu remoer interno.
Não és como o vizinho?
Não tens o que ele tem? Mas isso pouco importa.
O pior é não ser igual ou melhor;
O que leva a branquear tua face, como o branco
Enverniza o espírito:
Ó donos do mundo, pálidos e trêmulos.
Ó Donos de um mundo todo em migalhas...
V
São coisas da vida,
Morrer.
Ah, eu que julgava os dias
Serem sempre os mesmos.
Que amanhã acordaria
Para ser triste ao menos.
Morte aos olhos do moribundo
É desgraça ou alívio?
Quando morremos,
Não nascemos mais para o dia.