hoje

o sol se ergue e me desespero

mais uma vez

surge a oportunidade milagrosa

de ser massacrado

pisoteado

humilhado

ridicularizado

pela vida

mais uma vez

surge a oportunidade milagrosa

de gritar em silêncio

chorar sem lágrimas

desaparecer em sorrisos

mais uma vez

surge a oportunidade milagrosa

de me submeter àqueles menores

que eu

estúpidos

soberbos

cegos

vazando entre seus

buracos imundos

aquilo que consideram

como sabedoria

aquilo que se dito

diante de um espelho

o destroçaria

de decepção e hilária loucura

mais uma vez

o sol surge e ilumina

os lares dos infelizes

que pisarão

que cuspirão

que chegarão ao

êxtase

sorvendo de sua própria

incapacidade

cegueira

e soberba

ao lidar com seus melhores

não em títulos

não em riquezas

não em aparências

mas em inteligência

mais uma vez

submeteremos

a rara sensibilidade

a impossível genialidade

ao mesquinho

ao estúpido

à vaidade

e mais uma vez veremos o sol se por

sem que qualquer esperança

esteja no horizonte

sem que qualquer mudança

algum dia criará coragem

de se impor

deixando todos aqueles

tão necessitados

encolhidos em desespero silencioso

aguardando somente por uma coisa

da qual tem certeza que os resgatarão

o eterno descanso da ausência da vida