O RIO
O rio nasce longe do mar
e vai encontrar o oceano
depois de se quedar solto no ar.
O rio nasce sereno e serrano
chega o tempo em que se vai salgar.
Enraivece nas corredeiras intensas
e nas rochas agudas se bate
e nos grotões o rio reflete:
- O que vai ser de mim, quando chegar ao mar?
Vai se juntar ao todo, o rio
e lembrar-se do tempo do estio.
Das doces e espraiadas águas
e dos sombreados remansos.
O rio, ao se encontrar com o mar
será festa, uma algazarra temperada.
Salgará o rio solto e liberto,
das paralelas que o faziam cativo,
e se completará, por inteiro o rio,
quando chegar ao largo oceano
e no aconchego das vagas salgadas
adoçando a ira e o turbilhão da barra.
Somos todos, um muito de rio,
lançados assim da nascente à foz,
adoçamos em profundos vales e fendas.
Lambemos o verdor das margens
e, modestos, descansamos às sombras
das grandes e assombrosas serras,
refazemo-nos em suas paragens
e permeamos os nossos escombros
na profundidade úmida da terra,
para um dia findarmos no mar
libertando-nos as amarras
das estreitas e frias margens.
Para lembrarmos o que o rio era
fluindo e temperando a vida
e que somos, por fim, o sal da terra!