O RIO

O rio nasce longe do mar

e vai encontrar o oceano

depois de se quedar solto no ar.

O rio nasce sereno e serrano

chega o tempo em que se vai salgar.

Enraivece nas corredeiras intensas

e nas rochas agudas se bate

e nos grotões o rio reflete:

- O que vai ser de mim, quando chegar ao mar?

Vai se juntar ao todo, o rio

e lembrar-se do tempo do estio.

Das doces e espraiadas águas

e dos sombreados remansos.

O rio, ao se encontrar com o mar

será festa, uma algazarra temperada.

Salgará o rio solto e liberto,

das paralelas que o faziam cativo,

e se completará, por inteiro o rio,

quando chegar ao largo oceano

e no aconchego das vagas salgadas

adoçando a ira e o turbilhão da barra.

Somos todos, um muito de rio,

lançados assim da nascente à foz,

adoçamos em profundos vales e fendas.

Lambemos o verdor das margens

e, modestos, descansamos às sombras

das grandes e assombrosas serras,

refazemo-nos em suas paragens

e permeamos os nossos escombros

na profundidade úmida da terra,

para um dia findarmos no mar

libertando-nos as amarras

das estreitas e frias margens.

Para lembrarmos o que o rio era

fluindo e temperando a vida

e que somos, por fim, o sal da terra!

GUI MENDEZ
Enviado por GUI MENDEZ em 29/05/2023
Código do texto: T7800582
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