O colecionador
A necessidade de criar,
de ser, de estar,
de ter, de fazer, de usar,
de rir, de chorar, de sonhar,
de andar
por aí e ver os dias,
e as noites também,
não tem fim.
Exceto, talvez, pelo
dia que chega pra todos,
da luta invencível,
onde acaba toda necessidade,
de criar, de ser, de estar,
e tudo mais.
Os anos e decádas que passam,
diante dos olhos, que cegam,
e surdam, e degeneram, e acabam,
com a vontade, o ímpeto, a necessidade,
são guerreiros, invencíveis,
do exército implacável e imbatível.
Andando, em uma rua lotada,
carros, correndo, pessoas fechadas,
o antigo senhor lutava sua própria
luta, sua contribuição na guerra.
Abriu sua cadeira dobrável,
antiga, descolorida, usada,
e outra, nova, desconhecida,
cheia de vontade. Sentou-se,
estendeu sua placa, seu estandarte
de guerra. "Conte-me uma história."
Esperou, e repetiu todos os dias seu ritual, até ser vencido pelo implacável tempo. Arquivou bastante novas histórias em sua mente, combustível suficiente para fazê-lo continuar lutando.