POIS SEI QUE NÃO SEI

POIS SEI QUE NÃO SEI

 

Todos os dias eu renasço,

Se ao acordar ainda me vejo,

Pois mesmo que fosse de aço,

Dependo do Sol estar aceso.

 

Sou mera fagulha dos astros,

Guardando a fornalha e a alma,

No sopro do qual sou o rastro,

Ou como as linhas na palma.

 

Não quero pegadas nas pedras,

Porque gozo na areia do mar,

E lá o horizonte é sem serras,

Donde vejo até meu quasar.

 

Nascer todo dia é o que faço,

E enquanto eu puder caminhar,

Senão já fui pego no laço,

E não vou pelo céu galopar.

 

Por certo sou de eternidade,

Fluindo meu tempo em portais,

Mas quando eu for só saudade,

É porque vivi com os mortais.

 

É nesse corpo em que verso,

E nele eu clamo por fama,

Mas nele tem mais de universo,

Do que o meu tempo reclama.

 

Só peço por mais tolerância,

Pois sei que não sei o que sei,

E quando não passo da infância,

Será porque eu nem acordei.

 

E se um dia for feito estrela,

Eu quero dar luz para um cego,

Ou ser como o pau da liteira,

Enquanto um coitado carrego.