Fugata

Fugata

Delasnieve Daspet

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Me recuso a partir de uma rua qualquer.

Quem sabe, voarei na planura, ao entardecer.

Ou me refletir nas luzes do Sena;

Nas folhas outonais de Roma;

Ou sonhar ao som de Mozart, em Viena.

Não irei antes do tempo, eu sei.

Quero envolver as palavras com as estrelas;

Aquece-las ao sol da manhã.

Não irei, enquanto a madrugada se revestir de

Vazias lembranças.

Antes que o cinza do tempo despenque

Nos vales ensolarados.

Não irei, antes que a canção, cantarolada pela noite,

Se esparrame pelo chão, solitária.

Antes de cruzar os precipícios que se curvam ao nada.

Não irei, antes que de meus olhos,

Desçam pérolas derretidas, calcinadas pelas dores humanas.

Não irei, antes que a poesia fecunde na terra molhada.

Que as flores floresçam, em versos, na imaginação,

Sem acidente. Sem sustenido. Sem intervalos e base tonal.

Em absoluta liberdade de movimento.

24.04.22