TER COMIDA OU DINHEIRO

TER COMIDA OU DINHEIRO

 

É engraçado ter comida,

Desde quando tudo é fome,

Se o presente é morte e vida,

Sem saber o que consome.

 

Num cercado de pocilga,

Porco berra quando é fome,

Mas o dono da maldita,

Pouco enxerga como homem.

 

O exemplo de um Brasil,

É plantar para colher,

Mas esquecem o cantil,

Que no deserto faz vencer.

 

De que adianta ter dinheiro,

E estar no Raso da Catarina,

Sem ver sombra e juazeiro,

Ou muito menos ter piscina.

 

Ouro e prata compra tudo,

Se houver alguém que venda,

Pois na guerra, até o matuto,

Sabe o que serve de prenda.

 

Bem ali, numa batalha,

Morre o dono do cavalo,

Que não tem uma navalha,

E nem sabe quanto valho.

 

Só por isso não me vendo,

Nem alugo meus corcéis,

Por não saber qual o tempo,

Pra cantar com menestréis.

 

E por isso volto e leio,

Tudo escrito nos papéis,

Desde quando meu anseio,

Foi ser arte e não derréis.