CAIXOTES AVELUDADOS

dona morte,

sou apenas um menino,

vestido de velhas saudades, apenas;

saudades daquilo que fui,

daquilo que poderia ter sido

e daquilo que não deveria ter sido;

algumas coisas, fiz demais,

outras, fiz de menos,

e algumas, nem deveria ter feito;

fiz pequenos sonhos crescerem com pouca água,

fiz grandes sonhos morrerem afogados,

e outros tantos abortei pelo caminho por onde passei;

amei pessoas que nunca deveria ter amado,

abandonei outras que mais me amaram

e de algumas delas, nem senti falta;

ajudei pessoas que mereciam um tiro,

dei tiro em pessoas que mereciam ajuda,

enterrei ambas estrada afora;

de tanto correr por desertos e montanhas

que tropecei na suavidade das planícies

e por lá fiquei;

de tantas mentiras ouvidas, dona morte,

fiquei surdo para a verdade

e não acredito nem em mim mesmo;

estou mais perto do fim do que de onde comecei,

todo começo tem um fim,

mas todo fim gera, também, um novo começo,

só não sei onde, nem como e nem quando;

estou aqui, dona morte,

tenho menos a percorrer

do que aquilo que foi percorrido,

mas ainda estou aqui...

Jonas De Antino
Enviado por Jonas De Antino em 01/10/2020
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