sozinha

É preciso muita melancolia

pra escrever um poema

pra interrogar a lua

pra sair de cena

silenciando fundo como noite

mormaço de sertão na alma

Não há geada

paisagem invernada

garoa, mãos congeladas, solidão

é preciso melancolia na vida

na pulsação da vida

no átomo da vida

na comunhão da vida

quente, lasciva, traiçoeira

quando percebe, já fez uma prece

porque se descobre nada

e nada, nada, nada

de braçada

até a margem

é preciso a melancolia

que corta feito punhal

que cala mediante a verdade

a verdade universal

é preciso melancolia

pra obter respostas

continuar andando

dar as costas

sim, é preciso melancolia

incorporar o ancestral

que dita o poema

o culpado

que grita ao céu

o estrangeiro

longe de casa

e o que procura Deus

Yara do Vento
Enviado por Yara do Vento em 30/09/2020
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