sozinha
É preciso muita melancolia
pra escrever um poema
pra interrogar a lua
pra sair de cena
silenciando fundo como noite
mormaço de sertão na alma
Não há geada
paisagem invernada
garoa, mãos congeladas, solidão
é preciso melancolia na vida
na pulsação da vida
no átomo da vida
na comunhão da vida
quente, lasciva, traiçoeira
quando percebe, já fez uma prece
porque se descobre nada
e nada, nada, nada
de braçada
até a margem
é preciso a melancolia
que corta feito punhal
que cala mediante a verdade
a verdade universal
é preciso melancolia
pra obter respostas
continuar andando
dar as costas
sim, é preciso melancolia
incorporar o ancestral
que dita o poema
o culpado
que grita ao céu
o estrangeiro
longe de casa
e o que procura Deus