SABEDORIA
Aprender a amar as coisas que o tique-taque das horas naufragou porque pensávamos que o mundo cabia em nossas mãos e comemos, bebemos, banhamo-nos das realizações vãs acreditando ser o melhor pra nós.
Sentir o aperto das mãos que a urgência das conquistas ignorou,
abraçar o nascer e deitar do sol e guardar um pouco desse calor pra
desfrutar ao luar com quem reclama nossa ausência.
Perceber o momento em que as frutas precisam ser colhidas,
abrindo os poros e deixando a brisa arejar as células da alegria é
tecer as curvas da vida sem pressa, palmeando a estrada com os
pés nus, porque o salto dói as juntas e enrijece o espírito.
Entardecer com sabedoria é viver agora, degustar cada segundo do tempo, ao lado dos amores que nossa caminhada escolheu, dedilhar a poesia do sentido real de tudo, separar o importante do supérfluo
e fazer a tecnologia das mãos produzir o artesanato do afeto em detrimento das garras artificiais que apenas fabricam lucros.
Entender que o trem da história não passa só uma vez,
sempre nos dará outra oportunidade para fechar a ferida que abrimos,
acender o sorriso que apagamos.
Envelhecer com sensatez é viver um dia de cada vez, morder, mastigar até sentir o pleno sabor das seivas, distinguindo o paladar individual,
indissolúvel de cada pétala dessa grande rosa chamada vida.