Estrelas Cadentes na Baía de Cristais

O céu alaranjado trazia consigo na morte de mais um dia,

De tom roxo que brilhava na nebulosa orquídea,

Descia como estrela cadente da constelação aracnídea,

Hei de cair na areia da Baía.

Eu me aproximei do som estridente,

A poeira interceptando na relação dos olhos ao impacto,

Impactado e não surpreso, sorri de dente a dente,

Mais um ser expulso do céu prateado.

Diga-se que ficaram em frangalhos suas asas celestes,

A armadura celestial sobraram as simples vestes,

As penas chamuscadas do branco ao carvão,

Poderia teu esforço ter sido em vão?

A queda chega para todos os soldados,

Aqueles que a veste do Supremo não há de segurado,

Tua espada em destra e na verdade,

Havia sumido no oculto da trindade.

Não ouse o sem viver, há de perecer,

Nem mesmo amaldiçoar o criador, é por merecer,

Em verdade é dito que não há tamanha labuta,

Se a vida imortal não lhe traz essência pura.

Desses trapos lhe passo nas feridas,

Pois não se curarão de tão somente oração,

São dores intensas e passivas,

Não irão embora apenas por adoração.

Tudo que existe nessa baía de cristais,

De serem celestes, caídos e abissais,

Fora retirado do toque de Deus,

Por mais que seja Pai, confia nos seus.

Boas-vindas aos ares obrigatórios,

Daqueles que o pulmão é dependente,

D’água, do calor, do frio, do ódio e até do amor,

Tudo isso foi criado na necessidade do Senhor.

Em volta, terão túmulos dos que acenderam,

Mas aqui são tratados como pereceram,

A maior fruta existente no deserto,

De certo é a dúvida prostra pelas ondas,

Sinta sua voz no ar, sei que Tu me sondas.

Consegue pegar em minha mão e sentir tal sensação?

É a carne que machuca, que prende tua própria sedução,

Donde aprisiona todas as sensações d’alma,

Aqui que vive o seu fio de prata.

Tua mão em meu peito consegue captar essa vontade de sair?

Dizem os humanos que isso é o bater do coração,

Mas para nós, tão somente é querer fluir,

A inexistência de asas que querem para casa subir.

Sei que a queda dói, porventura é necessária,

O pior de um cristal é ter sua luz retida,

Por mais que aqui a luz perdura,

As trevas que acabam seduzidas.

Eu também sou como você, olhe minhas asas,

São enormes como minha vontade, mas de penas quebradas,

Tive a queda quando perdi todas as cores do viver,

Agora são encontradas na alma do meu ser.

Deste modo, entendo seu desespero,

Achou que viveria o eterno inteiro,

Das tuas mãos saem os mais belos tons de vermelho,

Mas arrancar teu último suspiro,

Nunca te levará de volta à casa do Oleiro.

Teu desejo de morrer tão somente noturno,

Se equipara ao desejo diurno,

Qual sombra te perdura na penumbra,

Querendo em ânsia sua própria tumba?

Viver pode ser belo como a pintura de mil cores,

De essências, de sentidos, de amores,

Tão somente assim se prova o sabor de cada movimento,

Nesse bailarino que dança para não se sentir morrendo.

No dia que caí foi pior a quebra das asas que cair,

Porque amava quem estava a construir,

Só porque queimadas e quebradas,

Não significa que deixaram de ser aladas.

Nos rochedos tive meu corpo impactado,

Sangrava como nunca havia sangrado,

Sentia o abraço que ninguém gostaria,

Mais frio que nenhum ressentimento o faria.

Transbordar-se-á sofrimento de viver,

Essa é uma segunda chance,

Ou forma tortuosa de morrer?

Não importa a música, dance.

Somos estrelas cadentes de encontro com a areia,

Em verdade digo que creia,

Como a esperança do brilho da alvorada,

De certo modo é forma de ser amada.

Seja bem vinda a baía de cristais,

Perdidos filhos que perderam a imortalidade,

Os pecadores da gula da ciência,

Aprendendo e vivendo na audácia e insolência,

Cantando e amando a arte da violência,

Mas a maior dádiva dada para nós,

É a insistência.

Hoje insistimos em continuar vivendo sem motivo,

Dessa existência de um silêncio cativo,

Mas o remanescer dessas asas,

São motivos para deixar nessa vida marcas.

Cicatrizes na realidade que nunca sararão,

Pois quero que esvaia esse sangue com paixão,

Amor este que perpetuo no meu viver,

Pois tudo que sentimos,

Fazemos por merecer.

Abra suas asas, irei nelas tocar,

Digo que são macias, quase um lar,

São quentes e aconchegantes,

Somos um para o outro,

Lares ambulantes.

Coisas que não leria se estivesse morta,

Porque insiste, sei que importa,

Voltando ao céus ou continuar existindo,

Fazermo-nos sorrindo.

Tenho todas as cicatrizes para isso,

Digo pelas lágrimas e sorrisos,

Espero que veja beleza nessas eternas marcações,

Do que seria feito esse mundo sem essas canções,

Cores estas entre o Tulipa Violeta,

Rubro e Negro,

Esmeralda e Cerúleo,

Pequeno devaneio.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 04/06/2020
Código do texto: T6967176
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.