N'ALGUM DIA...

À sombra da palavra me deito...

Ressono, acordo, satisfeito

por esperar o madurar dos versos,

no sonho de cada uma delas estar imerso,

morder os nacos de poesia no saciar sagrado...

Ao mundo levo o cesto de poesias colhidas,

tons verdes e amarelos, as chamaria de comida,

nas barracas à beira da estrada as ponho à mostra,

sirvo-as esmaltadas em mel, em favos, a quem gosta,

acariciadas pela brisa que passa, em cicio demorado...

Estupendas vozes as dizem em palcos públicos,

saem do estado letárgico e sobem aos lábios túmidos,

se espalham como borboletas num esvoaçar delirante,

espargem pólens sobre ainda sonolentos passantes,

crianças comem seus sons como leite temperado...

N'algum dia, como os profetas profeciam, atemporais,

mães e pais e filhos e tios e tias e avôs e avós e os animais,

todos ouvirão a música dos versos dos poetas ainda secretos,

ao estrondo das esferas siderais num último desfecho concreto

a primeira poesia apresentará a última: virá o tempo olvidado...