Fôlego

E se o tombo,

Aos oito anos,

Por entre o poste e o bebedouro da escola primeira,

Viesse com maior infeliz precisão?

E se partisse minha cabeça humana ao meio?

Lembro-me do sangue,

Da ambulância,

De minha serenidade;

De minha omissão do culpado:

"Escorreguei", dissera -

Comum às frente de bebedouro.

Não houvera dor.

Caí.

Nada tão objetivo

Quanto o pôr pé

Ao encontro

Da corrida de outrem;

Caí,

Sem dor.

Senti-me digno do tombo?

Por isso calei?

Um fôlego a mais

Quiça far-se-ia em centímetros

Com trajeto craniano:

Morrer-se-ia?

Menino loiro,

Boleiro, mêmore:

Chorar-me-iam, supõe-se.

Por hoje, não mais.

Restar-se-ia lembranças:

De cabelos, gols, astúcia -

Até que sequer isso.

Por hoje, não me resta nada;

Senão vento, ficção e cansaço.

Quem me dera o ter,

À época,

Maior fôlego.

Charles WP
Enviado por Charles WP em 20/01/2020
Código do texto: T6845955
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