VOCÊ SABE

Você sabe para que sirvo.

Inventar a roda,

desfile de moda,

correr desesperado atrás do salário,

servir aos espertos como um otário,

beber até cair,

ouvir o som da sirene,

fugir...

Você sabe para que presto.

Criar palimpsestos,

teoremas, teorias,

fazer andar o coxo com pernas de titânio,

buscar o sentido do cérebro furando o crânio,

tentar existir,

ouvir a sinfonia do rabecão,

partir...

Você sabe para que valho.

Morar na rua,

sentir o orvalho,

se sobrar uma casquinha tomar um sorvete,

gritar que estou vivo mesmo com esse torniquete,

criar o futuro dentro do tubo,

ver o sol e me abrigar no escuro,

enquanto puder, balir,

tocar a trombeta da alegria,

trombar com as palavras,

me tornar poesia,

um vir-a-ser, fluir...