RADIANTE POESIA

Em todo cemitério em que um poeta foi enterrado

há sempre um uivo que não cessa

como se no céu uma porta aberta

deixasse sair anjos distraídos

que ouvem a canção do morto

repleta de sentido

de um jeito torto...

Em todo silêncio há um uivo de poesia

como se todos os poetas mortos

ressuscitassem no mesmo dia

e saíssem a cantar odes festivas

como faziam glorificando a vida...

Em toda muralha há um tijolo desgovernado

como em todo vazio há um fragmento

de palavra dita sorrateiramente

como em todo tédio

há um fulgor de coragem

de repente...

Em todo segredo há um quê de revelação

como se a flor mais bela e perfumada

saísse esplendorosa do chão

para que todos vissem com alegria

que mesmo numa palavra triste

há uma radiante poesia...