SEREI

Serei, quem sabe, um dia,

um poeta das virgens matinais

ou um pastor de poesias

escrevendo túmidos sinais...

Serei, que sabe, outrora,

um poeta de postes e muros,

um que perdeu a hora

e vive a luz da poesia no escuro...

Serei, quem sabe, amanhã,

um criador de porcos ou de rãs,

amansador de loucuras

de quem vive na noite escura...

Serei, no inventário,

um poeta que colecionou diamantes

ou um mero perdulário

que se perdeu no instante...

Serei, quem sabe, um pescador sem vara,

ciscos na mão e estrelas na cabeça,

um variado que se busca nas palavras

e vive de dúvidas e nenhuma certeza...

Serei, enfim, um desenhador de versos,

um parafuso solto da cabeça do espaço,

um mergulhador que vive em si, imerso,

um que só quer dar um abraço...