OUTRO AMANHÃ

Me orgulho de tudo

desde o balde que puxa a água

até o velho mudo

que desenha poesias na rua

me orgulho da raça

dos cães de caça

que já não caçam nada

só espiam a enxada

do lavrador resiliente

que cavouca a terra

como se a meter os dentes...

Me orgulho do velho piano

que de vez em quando toco

de em sonolência fazer planos

de um dia andar de moto

e refazer a cristaleira

que toda se arrebentou

de tanto se fazer useira

na casa do meu avô...

Me orgulho de estar aqui agora

e quiçá amanhã e até depois

de comer angu e doce de amora

e aquele velho feijão com arroz

e depois a torta de maçã

me dizendo que haverá outro amanhã...