BEM ANTES DE DORMIR

O canto do aço enferruja

o lírio posto em sua janela neste domingo;

tem os olhos que precisa para ver o já visto,

tem mais música do que silêncio no teu coração,

fazes mais quando teu relógio para e tua vontade avança...

Os poetas da cidade são diferentes dos poetas do campo;

na cidade cantam as leis e as estratégias para domínios...

No campo cantam para as flores nos vasos dos escritórios,

cantam para o riacho nunca cessar seu marulho marítimo,

cantam para os animais nunca se tornarem outros animais...

O canto da vergonha mancha a ferrugem da maquiagem,

o bom homem que ama docilmente usa seu lenço

sobre o rosto manchado, se senta e conta uma história,

o mundo parece outro quando dito por outro pessoa,

limpo de ruínas e quedas o coração fervilha de amor...

Tenho um maço de dias que os gasto com quem não tem,

tenho um punhado de séculos que doo a quem guerreia,

tenho um verso escrito no lençol da cama e quem nela se deita

sonha com um campo de poesias sem arranhões e falsos beijos...

Venha, ainda tenho pão sobre a mesa,

tenho gotas de vinho para o teu copo,

tenho um cálice limpo e linho branco,

rezo por nós antes, bem antes de dormir...