POETA DE ALUGUEL

Foi alugado um poeta a preço de custo.

Saiu mais barato: é mudo.

Escreve com lápis ou caneta Bic,

não dá chilique,

filosofa sem fazer som,

é chique,

de Neruda a Drummond,

leva com ele um recitador,

escreve nas paredes e nos muros,

é sempre visto a andar no escuro

das noites onde todos dormem,

sabe-se de sua pessoa

e não o seu nome,

dizem que foi casado

e logo depois apartado

do seu grande amor,

não se sabe mais nada,

apenas que é um poeta de estrada,

passa um tempo alugado,

outro desesperado,

vive de supor...

Não tem placa na porta,

nem telefone para ligação,

sabe-se apenas que se importa

com quem bate seu pobre coração...