A SENHORA DE PRETO

Toda vez que passo

ela lá está

estendendo os braços

querendo me abraçar...

Eu

que sou fugitivo de mim mesmo

passo ao largo na outra calçada

que parece que vivo à esmo

levado pela enxurrada...

Ela ri e me convida

e eu agradeço e sigo só

maior que o prato de comida

só a vida que levo em dó...

Certa feita bateu à minha porta

e perguntou se podia entrar

eu lhe disse que minha aorta

era feita pra só amar...

Não me zango e nem me preocupo

com as investidas a qualquer hora

rezo um cadinho e depois me entupo

com delicioso sorvete de amora...

Um dia quem sabe sei que ela virá

como uma doce e mansa e sinuosa brisa

viajando pelos túneis que há no ar

e eu serei dela como da tinta a poesia

e iremos pelos confins a viajar...