SEM TEMPO
Hoje acordei como se ontem fosse
e percebi que tinha trocado os sapatos
tinha esquecido o saboroso doce
depois do almoço do lado do prato...
Ontem acordei como se fosse amanhã
e preparei o paraquedas para o salto
tentei em vão imitar a pequena rã
e fui para parar lá no meio do mato...
Amanhã acordei como se fosse hoje
e vi o que tinha feito comigo mesmo
e me pus a pensar como um monge
e parei de comprar e comer torresmo...
Nunca acordei como se fosse sempre
e acordado de um sonho malemolente
aparei os cabelos desse presente
fui esculpir a estátua do vago vigente...
Estando eu sem bússola ou calendário
para me referir a qualquer tempo
dentro do instante em seu ovário
recolhi os ponteiros do vento...