Res nullius

Não quero ser nada. Não quero ter nada.

O fadigado passado e o inevitável futuro:

Eu os renego.

Não os quero. Eis que sequer quero a vida

E não a quero para não querer a morte.

Nada almejo

Além do inexistente nada que não quero.

Res nullius.

Não quero as falhas. Não quero os louros.

Me faço existir sem querer o querer:

Me abstenho.

O ornamentado palácio que diz ser a vida

Pouco me diz ou conforta ou surpreende.

Só vejo a poeira

Renegada e resto de quem tudo reivindica.

Portais nobres, tijolos de ouro, tronos vazios

Empoeirados.

Que mal há em não querer existir ou desexistir?

Se pôr a vácuo em órbita no nada. Sem tempo

Ou espaço

No absolutíssimo nada. E que é só isso: nada.

Sem apegos, sem metáforas reconfortantes,

Sem poesia.

Sem vida por ninguém saber o que é a vida.

Nada.

(Mas que se poste o café à beira da cama

E alguém me acorde quando deixarem a casa.

Luzes acesas, consciência obscura

Por não conhecer nada.)

Brunno Freire
Enviado por Brunno Freire em 22/07/2019
Reeditado em 22/07/2019
Código do texto: T6701567
Classificação de conteúdo: seguro