Res nullius
Não quero ser nada. Não quero ter nada.
O fadigado passado e o inevitável futuro:
Eu os renego.
Não os quero. Eis que sequer quero a vida
E não a quero para não querer a morte.
Nada almejo
Além do inexistente nada que não quero.
Res nullius.
Não quero as falhas. Não quero os louros.
Me faço existir sem querer o querer:
Me abstenho.
O ornamentado palácio que diz ser a vida
Pouco me diz ou conforta ou surpreende.
Só vejo a poeira
Renegada e resto de quem tudo reivindica.
Portais nobres, tijolos de ouro, tronos vazios
Empoeirados.
Que mal há em não querer existir ou desexistir?
Se pôr a vácuo em órbita no nada. Sem tempo
Ou espaço
No absolutíssimo nada. E que é só isso: nada.
Sem apegos, sem metáforas reconfortantes,
Sem poesia.
Sem vida por ninguém saber o que é a vida.
Nada.
(Mas que se poste o café à beira da cama
E alguém me acorde quando deixarem a casa.
Luzes acesas, consciência obscura
Por não conhecer nada.)