INVISÍVEL POESIA
Conheci alguém que escrevia poemas invisíveis,
guardava suas mnemônicas matrizes
bem diante dos narizes
dos curiosos;
o curioso é que recitava em silêncio
poemas de Inocêncio, o Terrível,
sem esquecer sequer uma letra
como o bebê da vaca não esquece
onde está a teta...
Certo dia lhe pedi que fosse a uma festa
declamar o Poema da Floresta,
onde se perdem Joões e Marias,
um poema tão claro como o dia,
tão soturno quanto a noite,
gentilmente pedi que fosse...
Ele, recitando uma ode aos faraós,
sumiu na estrada mergulhado no pó,
nem me olhou de viés,
nem fez barulho com os pés,
fiquei ali parado no tempo,
sem alegria,
a esperar a canção que não veio,
a invisível poesia
a voar no vento...