OSSO DE SONETO

Até que eu esqueça como as palavras surgem no horizonte

desmontadas

aos pedaços

fragmentos

mudas

agarradas letras umas às outras

simples música de artistas vadios

ondas de mares ocultos

sobras de esqueceres tardios

em noites estreladas...

Até que eu me perca e nunca mais me ache

nem ache alguém meus passos sem lama

e viva escondido dentro de um vidro

sem rótulo e sem promessas

osso de soneto

amado e branco...

Até que eu desapareça como fazem os filhos da lua

quando o sol reparte o luminoso pão de cada dia

a seus filhos que vivem na selva sem relicários

e

mansamente surgem pastores e suas almas perdidas

e cães vorazes do inferno de cada um

e

a porta aberta da cabana deixa entrar

os pássaros que voam como girassóis

de feltro num raio de cem quilômetros...