UM DIA DE CADA VEZ
O céu estava vestido de azul nesse dia
Da estação das flores que principiava,
Fechando a janela por onde entrava
O vento gélido da minguante invernia.
Abria o céu um radiante sorriso azul
De leste a oeste, de norte a sul,
E a paz dessa manhã de anilado céu aberto
Aquecia-me a alma com um abraço fraterno.
Ao meu redor o ambiente refletia o sereno céu
Que acobertava os campos da verdejante alma;
A manhã encerrava um sabor amarelo de mel,
E exalava um cheiro floral de apaixonada calma.
Tudo em mim retratava fielmente o colorido
De safira daquele nascente céu de primavera;
Na verdade, acredito, eu mesmo tinha e era
A beleza natural imanente àquele dia bonito.
As mágoas férvidas congelei no inverno findo,
Delas rancor nenhum no fundo da alma restara;
Como na fachada do céu de ternura primaveril,
No meu coração vicejava um tom de azul limpo,
E em tal semblante de ar assim tão lindo surgiu
A alvura mesma da recém-nascida manhã clara.
Há dias que sem plausível razão
A vida faz-se uma face mais viva e faceira,
E talvez esteja nessa ausência de explicação
A essência da felicidade verdadeira.
Por isso amo tudo que concilia e une,
Por isso vivo um dia de cada vez,
Porque se hoje é dor e azedume, talvez
Amanhã venha a ser flor e perfume.