Meu presente de aniversário
Meu melhor presente de aniversário
foi aquele que não ganhei;
aquele que morou em suas falsas promessas;
aquele que você sequer me deu.
O melhor presente de aniversário
foi você mentindo na mesa da sala de estar.
Foi me deixar sem nem titubear...
Foi me fazer livre ao querer me algemar.
Não vi flores, tampouco brindei à vida.
Eu não lhe perdoei, tampouco amores vivi.
O melhor de meus presentes
foi por ti ter chorado.
Foi viver sozinho, amargurando,
dia após dia, incansavelmente.
O melhor de todos os meus presentes
é você morrendo em meu passado,
tê-la friamente me esquecendo,
me privando de um álacre futuro.
Não há de haver rima
um poema assim tão morto.
Eu mesmo não tenho métrica
suficiente para toda essa nossa distância.
O teu presente - o maior -
foi ter se matado em mim
enquanto eu te eternizava
nesses meus versos descabidos.
Eu espero que, ainda nessa vida,
alguém não te dê o que você também não me deu.
Que alguém em ti mora como em mim você morreu.
E que tu chores... Como eu, por ti, já tanto chorei.
Em cada nova dose, esterilizo-me,
mas ainda sou tão mundano, tão imundo.
Parece não haver mais tempo
pra que eu mesmo me limpe de ti.
Sigo, na cantiga da vida,
a canção já esquecida
que você não lembrou de me dar.
Eu deixo-me jazer em mim, enfim...